segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bubbles- parte 3

Não fui nas outras aulas do dia. Gente, como eu estou sensível. Como se coisas como aquelas não acontecessem todos os dias, todas as horas. Mas é que dessa vez... ai, eu não sei como explicar...Acho que dessa vez eles pegaram no meu ponto fraco,sabe...falar que os meus pais me abandonaram aqui... Acho que foi demais para mim.

MAS POR QUE É QUE ESSAS COISAS SÓ ACONTECEM COMIGO!?!?!?!?!? O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO?!?!?Quero dizer, por que é que essas coisas estranhas acontecem? Por que é só quando chegam perto de mim? Por que piora quando eu fico brava?? Não sou eu que estou fazendo isso, não é mesmo? Quero dizer, eu saberia se eu estivesse fazendo alguma coisa, não é? Não, não pode ser eu, tem de ter outra explicação!!!!!

Fiquei pensando nisso durante todo o tempo em que esperei no dormitório. E quanto mais eu pensava, pior eu ficava. Não tinha explicação. Simplesmente não existia! Será que eu sou mesmo, como eles dizem, um monstro?? Não, isso não. A primeira regra para quem, como eu, tem que aguentar esse tipo de coisa, é não dar ouvidos ao que dizem. Mas isso é muito difícil no meu caso.

Anoitece. As outras meninas do dormitório chegam.

"Aberração, os professores queriam saber por que você faltou aula. Eu disse que você devia estar aterrorizando alguma criança indefesa. Acertei, não é?"
"Cala a boca. Já não basta o que vocês fizeram na aula?"
" O que nós fizemos? Mas foi você que foi tirada da sala!"
" Vocês sabem muito bem do que eu estou falando"
"Ah, é por causa do abaixo-assinado, né? Mas esse é só o começo, coisinha. Ninguém vai querer seus filhos estudando na mesma escola que uma coisa que pode matar só com o olhar..."
"CALA A BOCA AGORA!!"

Má ideia. Não, péssima ideia. Não devia ter ficado irritada com elas. Os vidros do dormitório se quebraram. Pequenos arranhões apareceram nos braços das meninas.

"Eu não sou isso que vocês estão dizendo."
"Não? Então vai dizer que não está fazendo nada? Que nunca fez nada?"
"Mas eu não fiz nada!"
"Então o que é isso no meu braço? Também não é nada?"
"Se não é você, então quem é?"
"Como você explica isso?"

domingo, 29 de novembro de 2009

Bubbles-parte 2

Mais um dia de aula. Que tédio.
...
Troca de professores. Ao invés de ficarem quietinhos, sentados, esperando o próximo professor, como era de se esperar dos alunos do melhor internato do país, eles se levantam. Começa a bagunça. Meninas fazem rodinhas para fofocar. Meninos ficam jogando objetos para o alto (afinal, o que eles tem no lugar do cérebro,hein?) . De repente, um dos meninos tem uma ideia "genial". Se levanta, vai até a frente, pega um giz na caixa e joga para o alto. Começa uma guerra de giz. Algumas garotas saem correndo para não ter seus "lindos cabelinhos" sujos de pó branco.
Um giz jogado por alguém, não vi e nem importa quem, veio em minha direção. Um menino notou isso e avisou os amigos. Estavam todos olhando para ver o que ia acontecer. E o que aconteceu foi...nada. O giz estava a uns 20cm de mim quando virou pó.
"Ei, vamos ver quem consegue acertar um giz na monstra"
Bom, eu já disse que não ligo para as brincadeiras ridículas que esses lesados fazem. Mas chega uma hora em que qualquer um perde a paciência. E a hora foi essa. Me levantei e disse:
"Parem com isso...agora".
Cada giz na mão de cada um deles virou pó.Deu para ver que eles se assustaram... alguns davam até uns passos para trás.
"Ei...calma aí...nem acertou você"
"Não precisa ficar bravinha, aberração"
"Será que é seguro ficar tão perto dela assim?"
"Vê se não mata ninguém hoje"
"Se acontecer alguma coisa com alguém aqui, todo mundo já sabe que a culpa é sua!"
Fiquei pensando se não teria sido melhor eu ter ficado quieta. Pelo menos alguns acharam que seria melhor não me provocar. Mas seria muito melhor mesmo é se eles simplesmente calassem a boca!

"Ei, ei, crianças. Todos em seus lugares. A aula vai começar"
O que mais me irritava nos professores é que eles simplesmente fingiam que não estavam vendo o que estava acontecendo.
...
A aula foi seguindo um tédio como sempre. Até que um "engraçadinho" da frente jogou uma bola de papel em mim. A bola caiu do lado da minha carteira. Desamassei o papel e li o que estava escrito.

"A Tatiana é uma aberração
Essa instituição já foi considerada um dos melhores internatos que existe. É triste constatar que nosso diretor não quer fazer nada para manter essa imagem. deixam até que um monstro como a Tatiana estude aqui. Quem concordar que ela saia da escola, escreva abaixo. Também podem deixar seus comentários sobre o assunto.

Sou contra a presença dessa monstra na nossa sala.

Só não escrevo meu nome aqui porque senão ela pode me atacar

Ela é um perigo para nós

Mal consigo dormir a noite pensando no que ela pode fazer

Deveriam expulsá-la já!!

Só estaremos seguros no dia em que ela estiver longe !!!

Deveriam prende-la numa jaula CONCORDO eu também

Gente, que maldade... Mas eu também acho que ela deveria estar longe daqui

Por que ela não volta para o planeta de onde veio??? Acho que expulsaram ela de lá...
OS PAIS DELA NÃO QUEREM MAIS SABER DELA E DEIXARAM ELA AQUI
FORA, TATI-MONSTRA
Sai daqui aberração!!!
Ninguem quer saber de você, sua feiosa!
Vai pra um zoólogico, se é que lá aceitam coisas que nem você
Vai ameaçar otras pessoas!!!

SOME DAQUI!!(...)"

Parei a leitura por aí. Isso era típico deles.
"Tatiana, tem algo que gostaria se compartilhar com a classe? Algo mais interessante do que a matéria que vai cair na prova?"

Ótimo. Eles jogam em mim um papel cheio de ofensas, xingamentos e erros de português e eu e que levo bronca?
" Quer mesmo que eu vá até aí, professor? Eu posso acabar fazendo alguma coisa..." Paciência tem limite.
"Me respeite. Eu sou seu professor. Deixe-me ver o que é isso"
O professor veio até a minha carteira, pegou o papel e começou a ler.
"Quem é o responsável por isso?" Como se o papel não estivesse cheio de assinaturas de alunos que me queriam fora da escola por eu "ser uma ameaça a segurança de todos"
"Mas é a mais pura verdade professor"
"Quieta!"
"Professor, não está vendo as assinaturas no papel?!?!"
"Eu vou dar até o final da aula para o responsável vir falar comigo. E você, Tatiana, sem mais gracinhas!"
"Mas eu não fiz nada!!!"
"É, alien,sem gracinhas!" A cadeira da menina que disse isso se quebrou e ela caiu no chão.
"Eu tinha dito sem gracinhas, Tatiana"
"Professor, você não viu do que ela me chamou?? E a culpa não é minha se a cadeira não aguentava mais o peso dela!!"
" Professor, ela tenta me ferir e agora me chama de gorda?! O senhor vai deixar essa..essa coisa impune??"
"Tira ela da sala logo"
" Quietos, quietos...Tatiana, dessa vez você foi longe demais! Fora da sala, agora!!"
"Mas, professor, eu não..."
"AGORA!!!"
Ótimo! Quer dizer então que eles podiam me chamar do que quisessem, escrever tudo aquilo sobre mim e me xingar na frente do professor, e eu não podia nem me defender? Quer dizer então que qualquer coisinha que acontecesse era culpa minha? Afinal, o que eu tinha feito para ele me tirar da sala? O que eu fiz para merecer isso?
Saí da sala sem dizer mais nada. No corredor, comecei a correr. Queria ir para o dormitório, para a minha cama. Na verdade, queria mais é ir para longe, bem longe dali. Para um lugar onde não me chamassem de aberração, de monstro. Para um lugar onde eu fosse bem-vinda. Mas onde eu iria achar um lugar assim?
O que era aquilo nos meus olhos? Não, não poderiam ser lágrimas...Eu sabia que era assim. Era sempre assim. Os professores nunca brigariam com quem estava falando as mesmas coisas que eles pensavam. Eu não tinha motivo para me importar com...Ah, quem eu estava querendo enganar? Eu estava chorando sim! Eu sempre digo que não ligo, que não me importo, mas no fundo, eu sei que é mentira. Mas o que eu posso fazer para mudar isso?

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Bubbles- parte 1

Meu nome é Tatiana.
Tenho 15 anos e estudo em um internato.
...
Desde que eu sou bem pequena, acontece uma coisa estranha. Não comigo, mas com aqueles que ficam próximos de mim. Não é algo que me incomoda. Mas esse fato fez com que meus "coleguinhas de escola" me tratassem de forma diferente.
Começou no meu primeiro dia de aula. Maternal, sabe. Primeiro , uma menina veio falar comigo. De repente, apareceram dois cortes no braço dela. Coisa leve, superficial. Mas estranho. E não foi só ela. Todos que chegavam perto de mim se machucavam de algum jeito ou diziam sentir algum tipo de dor. Os objetos de vidro que estão perto de mim quebram. Por causa disso, as pessoas se afastaram de mim. Virou um tipo de lenda da escola. No início, meus "colegas" pareciam sentir medo. Mas, quando entramos na 5ª série, isso mudou. Agora, eles não se importam mais se eu estou ouvindo ou não. Na verdade, eles começaram a falar essas coisas para mim. Me chamam de "aberração" ou de "monstro". Uma vez, eu ouvi algumas meninas apostando para ver quem chegava mais perto de mim.
A pergunta é: sou mesmo eu que faço isso? A resposta é simples: não. Eu não tenho nenhuma explicação lógica para isso. Mas existem muitas coisas que a lógica não explica. O fato é que, se eu estivesse mesmo fazendo alguma coisa, eu saberia. E usaria isso a meu favor. Mas eu não faço. Não sou especial, não tenho nenhum tipo de super-poder, ou coisa assim. Sou uma garota comum.
Vocês devem estar se perguntando o porquê de eu nunca ter contado isso para ninguém. Por dois simples motivos. Primeiro : eu não me importo. Que se danem eles. Segundo: não tenho para quem contar.Meus pais? Posso contar nos dedos de uma mão o número de vezes que eles vieram me ver. Os professores? Eles sabem o que acontece. E também tem medo. Minha carteira fica no canto mais afastado da sala. Sempre que os professores tem que me entregar alguma coisa, prova, bilhete, eles pedem paras alguém me entregar. Querem ficar o mais longe possível de mim.
Essa é a minha vida.