domingo, 31 de janeiro de 2010

Bubbles- parte 10b

No fim da tarde, nossa mestra saiu para comprar algumas coisas, o que significa que ela é louca. Afinal, ela deixou quatro adolescentes com energy sozinhos em um lugar que pode desabar com esse poder. Para piorar, uma não tem o menor controle sobre sua energy e está doida para matar outra. Estou falando sério. Se a Clara não vier aqui me explicar toda essa história, eu nem sei o que eu vou fazer.
Eu sei. Controlar as emoções, e blá blá blá...

É melhor eu contar outra coisa que aconteceu hoje para vocês entenderem o motivo de eu estar sentindo isso. Depois de uma noite estranha, um café com mentiras, um treinamento revelador e uma ameaça (desculpe, acho que ela preferiria chamar de aviso, mas para mim parecia uma ameaça), eu voltei para o quarto. A Samira estava lá. Começamos a conversar.
"Samira, sabe aquilo que você disse?"
"Quando, no treinamento?"
"É, isso mesmo! Você, por acaso... tava falando sério?"
"Sim, estava" Ela deu um leve sorriso ao dizer isso, o que foi assustador.
"E por que não estaria?"
"Ah, sei lá "
"Você também sabe, não é?"
"O que?"
"Que tudo isso aqui é uma mentira"
"O que é que... o que... você quer dizer com isso?"
"Por exemplo, aquilo que você perguntou. Será que é possível que duas pessoas sonhem com a mesma coisa?"
"Então você também... você também ouviu?"
"Não foi a primeira noite. E nem será a última."
"Você sabe por que...?"
"Não. Ninguém diz nada. Quando eu perguntei, foi a mesma coisa. Você notou, não é? Esse lugar é feito de falsidade. A Clara esconde os segredos do Mário e ele, os dela. E a 'mestra' finge que não sabe de nada. "
"Você... eles... o que...?"
"Mas eu não sou assim. Não me escondo, não finjo. Eu acho que não temos que nos preocupar com o que vai acontecer com aquelas pessoas, e simplesmente digo isso."
...
Deu para entender, né? Ela me bombardeou com informações e ao mesmo tempo não me disse nada. Eu decidi esperar a Clara e fazer ela explicar tudo isso. Ela tinha que me explicar.
...
Ouvi um barulho de carro. Como esse lugar fica no meio do nada, imaginei que fosse a 'mestra'. mas o carro não era transparente e nem estava sendo dirigido por uma mulher ruiva. Era um carro normal sendo dirigido por uma pessoa que poderia passar despercebida na multidão. mas quando ele desceu do carro e veio andando na direção da 'casa', eu vi que não era uma pessoa qualquer. Eu já tinha visto aquele homem em algum lugar, só não me lembrava onde.
Eu desci as escadas e fui para a sala, onde os outros também já estavam. O homem se aproximou da porta,e... a destrancou com uma chave transparente que ele tinha no bolso.









Ele nos contou um terrível acontecimento. Não sei se tenho coragem de dizer o que ele falou. A nóticia nos pegou de surpresa.

A mestra definitivamente era louca. Deixou quatro adolescentes com energy sozinhos no mundo.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Bubbles- parte 10a

Treinamento com as bolhas. Que chato...
Aquela história dos gritos ainda me preocupa. Mas não é hora de pensar nisso.
Energy fraca demais. As bolhas se recusam a ir para onde eu quero.
E por que a Clara não quer que eu saiba? Será que é verdade mesmo que ela também não sabe? Ou...
Energy forte demais. Bolhas explodindo.

"Pelo visto, você não consegue mesmo, não é?"
Tudo o que eu preciso agora é ser importunada pela srta. Perfeição! Por que ela simplesmente não cuida da vida dela?!
"O que você acha?!"
"Desse jeito, você nunca vai conseguir. Você tem que controlar suas emoções e..."
"Por favor, Clara, pára de bancar a sabe-tudo!"
"A culpa não é minha se eu sei mais do que você"
"Meninas, parem!"
"Me desculpe, mestra. Mas foi ela que começou!"
"Mal posso esperar para poder sair daqui"

O comentário saiu um pouco mais alto do que eu queria. Mas a reação deles foi pior do que eu pensava. Todos começaram a me olhar como se eu tivesse dito que iria comprar um elefante e levar para lá.
"Sair?"
"É, quero dizer, quando eu estiver pronta e..."
"Mas quem falou que você vai sair?"
"Como assim?" Foi a minha vez de usar a expressão de que tinham anunciado a compra de um elefante.
"Querida, existem um bom motivo para vocês não poderem sair. A energy é muito imprevísivel. Se vocês saírem, correm o risco de machucar alguém, ou até pior..."
"É muito perigoso"
"Você não tem ideia de quais poderiam ser as conseqüências"
"Eu... eu vou ter que ficar aqui? Para sempre?" Agora parecia que o elefante tinha me pisoteado. Por um breve momento eu me imaginei já com uns sessenta anos e ainda agüentando tudo aquilo. Eu estava chocada. Chocada demais para notar o que havia de estranho em uma daquelas falas.
"Eu acho isso um absurdo!"
"Samira, já falamos sobre..."
"Quero dizer, nenhuma daquelas pessoas lá fora jamais faria algo por nós. Jamais nos ajudariam. jamais nos reconheceriam como alguém, se soubessem sobre a energy, não é? Então por que nós temos que nos preocupar se algo vai acontecer com eles?"

Agora parecia que eu tinha visto uma manada de elefantes vindo em nossa direção. Eu já conheço um pouco a Samira. Ou acho que conheço. Eu nunca imaginei ouvir ela dizendo algo assim.

Foi demais para mim. Eu teria que passar a minha vida toda em um lugar estranho, o Mário falou sobre segurança e a Samira disse algo digno de uma psicopata. Mal sabia que estava apenas começando.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Bubbles- parte 9

Por que grita tanto? O que houve?

...

Não consegui dormir essa noite. Cada vez que o sono chegava, vinha uma sensação de insegurança, de incerteza. De medo...

Acho que não era nada. Talvez essa sensação fosse por causa dos gritos. Gritos que vinham do quarto da frente.
Como as portas, tanto a do quarto onde eu durmo junto com as outras duas quanto a do quarto dele, são transparentes, tentei dar uma olhada para ver o que tinha acontecido. Eu não podia acender as luzes, já que eram três da manhã, hora em que a maioria das pessoas prefere dormir. Mas a lua lá fora ajudava muito a identificar as coisas naquele quarto. Preferi não levantar para ver melhor, porque aí já seria invasão de privacidade.
Mas eu não pude deixar de ficar preocupada. Aqueles gritos pareciam vir de uma pessoa desesperada, que estava sofrendo. E eram o único som que era possível se ouvir.
...
Levantei na hora em que as meninas acordaram. Ele ainda estava dormindo. Mas agora já não gritava mais. Quando saí do quarto, não resisti e dei uma olhada para o quarto dele. Estava imóvel, mas... alguma coisa nele me indicava que ainda estava sofrendo.

Na cozinha, encontramos uma mesa arrumada com o café. As meninas começaram a conversar sobre algum assunto envolvendo pessoas irresistíveis e sem muita inteligência (garotos). Eu fiz alguns comentários e respondi quando elas me perguntaram alguma coisa, mas eu não estava exatamente lá. Nove anos assistindo aulas chatas me ensinaram a fingir que estou dando toda a minha atenção a fala de alguém quando na verdade eu estou com a cabeça em outro lugar. Só que, diferente de algumas pessoas, eu sei ouvir apenas o necessário para não ficar perdida quando me perguntam algo, o que é muito útil durante uma aula em que o professor adora perguntar para ver se todos estão prestando atenção.

Naquele momento, eu pensava no que aconteceu durante a noite. Nos gritos, no medo...

"Ah, ele chegou!"
Essa frase de Samira me tirou dos meus pensamentos sobre o Mário desta noite e me mostrou o Mário desta manhã.
"Estavam falando de mim,bonecas?" Nada parecia ter mudado. Ele continuava o mesmo de sempre.
"Estávamos falando de como somos azaradas por você ser o único representante do sexo masculino aqui"
Começou de novo. Já faz parte da rotina: uma vez a cada cinco minutos os dois precisavam ter uma discussão. Me pergunto se não aconteceu nada entre os dois antes de eu vir para cá.
"Eu te defendi: disse que você até que é bonitinho"
"Só 'inho', né, Samira?" Nem sei o que me fez dizer isso. Acho que foi só para ter a sensação de que nada mudou. Mas mudou. Eu sinto dentro de mim que o que aconteceu mudou tudo.
"E vocês três parecem super-modelos... se bem que eu ainda não descobri que planeta a Clara representa!"
Ri. Mas não era o que eu queria fazer. Quem ele estava querendo enganar, quem todos estavam querendo enganar? Eu queria sair correndo, gritar, chorar. Eu sempre quis ser parte de algo. Mas não daquele jeito. Era tudo tão... artificial. Aquilo não estava certo.


...

"Vocês dormiram bem?"
"Que pergunta é essa, Tatiana? Já passa das duas da tarde!"

"É que eu não dormi direito. Ouvi alguns gritos no meio da noite"
Aquela frase pegou todos eles de surpresa. Mesmo. Um copo se quebrou, mas eu não sei dizer quem foi o responsável.
"Gritos? De quem?"
"Do...do Mário" Não foi como eu planejei...
"Hein? Meus? Garota nova, tem certeza de que não estava sonhando?"
"É, talvez... Ah, esquece!"
Eu sei que não foi sonho. Sei que eu ouvi aquilo, sei disso. Mas... não sei se é certo que todo mundo saiba. Ah, sei lá...

...

"Tatiana, posso falar com você um pouquinho?"
Como se eu pudesse dizer 'não' para a srta. Perfeição.
"Claro. O que foi?"
"Sobre o que você disse, dos gritos..."
"O que é que tem?"
"Bem, é que... Tatiana, esquece esse assunto"
"Clara, você ouviu o que eu disse. Devia ser só sonho"
"Nós duas sabemos que não foi um sonho."
" Por que veio falar disso comigo agora?"
"Porque eu sei que você quer descobrir o que houve. Tatiana, esquece isso. Ele não vai te contar o que foi, acredite. E nem vai fazer bem para ele falar sobre isso"
"Então você sabe o que é!"
"Não, não sei. E é melhor não saber. Deixe como está, Tatiana."

Ela acha mesmo que eu vou esquecer? Definitivamente, tem coisa aí. E eu vou descobrir o que é.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Minha melhor amiga - 1° dia - parte 1

Apesar de parecer algo muito estranho, por aqui isso tudo é muito normal e faz parte da nossa rotina. Aprendemos que as coisas são assim quando ainda somos crianças. Você não vê ninguém se perguntando sobre o porquê disso acontecer.
...
Primeiro dia de aula do ano. Eu não tenho nada contra a escola, mas as aulas tinham que começar tão cedo? Como a maior parte das pessoas, eu odeio acordar cedo.
Minha amiga Rani veio para a minha casa para podermos ir juntas para a escola. Nós duas nos conhecemos quando éramos bem pequenas. E ela sempre precisou me expulsar da cama para eu não me atrasar.
"Acorda, Bela Adormecida!"
"Ah, Rani... só mais cinco minutinhos!"
"Ariana, você me pede isso todo dia..."
"E hoje você vai ter um surto de bondade e vai deixar, né?"
"Nã-nã-não! Levanta logo, Ariana, senão a gente vai se atrasar"
Relutante, eu me levantei e coloquei o uniforme. Me olhei no espelho. Parecia que fazia anos que eu não dormia direito. E esse era só o primeiro dia de aula do ano.
Meio tonta de sono, me lembrei que Priscila ainda estava lá, sentada encostada na parede, esperando eu pedir para ela se levantar. Peguei uma roupa qualquer no armário e entreguei para ela.
"Se veste para a gente ir para a escola"
"Sim"
Ela se levantou e foi para o banheiro se trocar.Nem sempre era assim, eu dando "ordens" e ela respondendo com uma palavra só. Mas, quando tinha outra pessoa, mesmo que não fosse a minha mãe, ela preferia assim. Qualquer um me diria que eu não precisava fazer isso só porque ela queria, mas para mim isso não era problema.

Então fomos para a escola, nós quatro (eu, Priscila, Rani e a prisioneira de Rani). O começo de um novo dia, de um novo ano...De algo novo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Bubbles- parte 8

Estava diante dela outra vez. Mas não importava quantas vezes eu visse aquela cena, iria ser sempre ruim. Toda noite aquela imagem do passado vinha.
....
De certa forma, eu gostava daquilo. Porque assim, eu nunca iria me esquecer que eu não merecia isso.


A garota estava lá. Caída no chão. Machucada. Mais do que isso...
A criança chegou. Era um garoto qualquer, alguém sem importância. Mas, para mim, ele não era só um garoto qualquer. Eu o conhecia muito bem, mais até do que eu gostaria. Eu conhecia até mesmo o lado dele que se revelou naquele dia, o lado que ele tentou ignorar durante os anos que se seguiram.
"Branca!!"

Não importava quantas vezes ele chamasse. Ela não iria responder. Ela não iria acordar.

"O que aconteceu?"
Você sabe o que aconteceu
"Quem fez isso?"
Você fez isso
"Branca, acorda!"
Ela não vai acordar
Você sabe que ela não vai acordar
"Eu...eu não queria que isso acontecesse!!"O garoto começou a chorar.
Se não queria, por que se aproximou dela, então?? Você sabia...
"Não,eu... eu não fiz... eu não queria..."
É CLARO QUE FOI VOCÊ!!! VOCÊ SABE O QUE FEZ!! VOCÊ SABIA QUE ISSO IRIA ACONTECER SE ELA FICASSE PERTO DE VOCÊ!!

Você devia desaparecer!


...


Acordei. Como sou o único menino do... ah, desse lugar aqui, eu também sou o único a usar esse quarto. O que é bom. Se alguém tivesse que dividir o quarto comigo (como as meninas fazem), provavelmente me mataria. Um dos motivos é que eu vivo quebrando coisas. O material de que tudo é feito nesse lugar é um dos mais resistentes que existe. Mas é extremamente sensível a energy. Parte da energy é controlada por nossas emoções, o que explica uma parte do estrago.
O outro motivo é,bem...
"Posso entrar, Mário?"

"Ah, é claro, mestra"
"Pelo visto, você andou fazendo de novo, não é?" Ela apontou para a mesa (ou o que restou dela) ao lado da minha cama( que teve sorte de sobreviver).
"Não sei do que está falando"
"Sabe sim. Bem, de qualquer forma, acho que eu já desisti de te fazer esquecer essa loucura. Eu vim falar sobre outra coisa. Eu estou preocupada."
"Com o que?"
"Você pelo menos consegue dormir? Toda noite ouço gritos seus vindo desse quarto"
"Eu sinto muito mestra"
"Não tem que se desculpar. Se houver algo te preocupando, diga"
"Acho que sabe o que me preocupa"
"A mesma história de novo? Sabe que não foi culpa sua"
"Então acho que não estamos falando da mesma coisa. A 'história' a que me refiro só ocorreu por minha culpa."
"Vamos descer. As meninas já estão lá."

A mestra é a única pessoa que sabe a verdade. Ou uma parte dela, já que ela insistia em...bem, deu para entender, certo?

Poucas vezes eu paro para reparar em como o lugar em que moramos é lindo. Tudo é feito daquele material que eu falei. E ele é transparente, parece...gelo. Estávamos no andar de cima. Mas é só eu olhar para baixo que eu posso ver a sala, a cozinha. Os canos que levam a água limpa pela 'casa' também é feito desse material, o que nos permite ver a água correndo. É claro que nem tudo é desse material transparente. Os banheiros, por motivos óbvios, tem paredes e portas normais.
Quando eu estou perto das garotas, eu me transformo. É a única brecha que eu permito. Me 'divertir' conversando com elas.
"Ah, ele chegou!"
"Estavam falando de mim,bonecas?"
"Estávamos falando de como somos azaradas por você ser o único representante do sexo masculino aqui"
A Clara atualmente só briga comigo, e em troca eu implico com ela. Nem sempre foi assim. Quando eu vim para cá, eu devia ter uns seis anos, ela era a única que estava aqui. Éramos muito diferentes. Hoje, eu me sinto como se estivéssemos guardando o segredo um do outro, mesmo que nenhum de nós saiba o porquê de estarmos daquele jeito nem o porquê da nossa mudança.

Com a Samira, é tudo mais tranquilo. Ela não leva tudo tão a sério. Também, ela já tinha doze anos quando veio para cá, e já controlava a energy sozinha.
E o que dizer da 'garota nova'? Se irrita com facilidade, por isso deve ter tido algumas dificuldades.
"Eu te defendi: disse que você até que é bonitinho"
"Só 'inho', né, Samira?"
"E vocês três parecem super-modelos... se bem que eu ainda não descobri que planeta a Clara representa!"
Esse ambiente calmo...vai além do que eu deveria ter. Mas, por enquanto, ninguém sabe, e eu prefiro que continue assim...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Bubbles- parte 7b

Apesar de meus novos colegas terem personalidades bem diferentes, tudo lá parecia estar em harmonia. Muita harmonia. Era como se tudo fosse... um teatro. Como se cada um tivesse escolhido um papel e continuasse a interpretá-lo sempre que alguém estivesse por perto. Ou alguma coisa do tipo. Eu não sei. Como eu disse, parecia ter alguma coisa errada.
E não era só isso. A nossa "mestra" (ou seja, a mulher ruiva que me trouxe para cá) também parecia ter escolhido seu papel. Ela parecia tentar ser uma espécie de "mãe" substituta. Agia como uma pessoa compreensiva, que estava lá só para nos ajudar. Mas isso parecia ser apenas um tipo de máscara.
...
Eu estava sendo tratada de um jeito muito diferente do que eu estava acostumada. Pela primeira vez eu me sentia próxima de conhecer algo parecido com "amizade", apesar dessa sensação de que nada daquilo era verdadeiro. Mesmo assim, algo em mim me dizia para sair daquele lugar. Eu realmente não sabia o que fazer.