Aquele lugar... tão familiar e ao mesmo tempo tão desconhecido...
Eu não sei por que estou esperando por alguém, mas esse lugar...
Eu estou sozinha nesse lugar. Parece um campo aberto. Observo o pôr-do-sol. É um lugar lindo. Mas tenho medo do que pode acontecer quando anoitecer. Porque aqui não tem ninguém. Mas deveria ter? Eu não sei...
****
Acordei de um dos sonhos mais estranhos que eu já tive. E, nesse ranking estão incluídas a vez em que eu sonhei que era perseguida por uma torta gigante, e a outra em que eu sonhei que beijei 40 garotos no mesmo dia.
O estranho não foi a situação. É perfeitamente normal olhar o pôr-do-sol. Mas aquele sonho me deixou com uma sensação estranha...Foi tão real. E não é só isso: aquele lugar não era um lugar comum. Eu não consigo explicar...
"Já, acordada?"
"Hein?"
Olhei para o relógio. Eram cinco da manhã. Um recorde, para mim, acordar a essa hora. Faltava uma hora para a Rani vir me maltrat... digo, acordar. Esse tempo precioso poderia ser usado para eu dormir, mas... eu estou com medo de dormir.... de voltar para aquele lugar...
"O que fez acontecer esse milagre?"
"Tive um pesadelo"
"Que nem daquela vez, da torta?"
"Aquilo foi assustado, tá? Mas não foi assim, não foi pior..."
"O que pode ser pior do que uma torta de amora de 5 metros?"
"Há-há"
Ela começou a rir. Não entendi qual era a graça. Mas a risada dela é contagiosa, então comecei a rir também.
"É melhor a gente rir mais baixo, ou a sua mãe pode ouvir"
"Tem razão"
O que eu menos queria era que minha mãe viesse ver o que está acontecendo. Seria... desagradável.
"Mas conta, como foi o sonho?"
"Eu não consigo explicar direito... Eu estava em um campo aberto, vendo o pôr-do-sol, e... sei lá, eu estava com medo de que acontecesse alguma coisa quando anoitecesse..."
"Medo do escuro?"
"Não, era... sei lá.... e eu sentia que estava faltando alguma coisa. Eu estava procurando por alguém que não estava lá, mas eu sentia que deveria estar..."
"Estranho, não é? Hoje eu sonhei que estava vendo você dormindo..."
"Hahá... Priscila, eu falo enquanto durmo?"
"Que pergunta é essa, agora?"
"Sei lá... eu fiquei com essa dúvida, agora..."
"Acho que se você descer agora, você consegue abrir a porta para a sua amiga entrar. A sua mãe também já deve ter acordado"
"Mas ainda é cedo..."
"O mundo inteiro acorda antes de você, Ariana. Elas deixam para te acordar no limite do limite do tempo"
"Sério? Então vou supreendê-las. Vamos nos trocar e descer AGORA!"
Eu com certeza não iria perder a chance de jogar na cara delas que eu consigo acordar cedo. Me vesti o mais rápido possível e desci as escadas. Priscila tinha razão, cheguei a tempo de abrir a porta para Rani.
"Nossa, acho que eu ainda estou dormindo! Ariana, acordada!?"
"Viu, eu te disse! Eu consigo acordar sozinha!"
"Filha, nós todas sabemos que você não acorda... Hoje foi uma exceção, com certeza!"
"Mãe! Era para você me apoiar!"
"Mas a sua mãe está certa. Você passa mais tempo dormindo do que acordada"
"Hoje tá todo mundo contra mim, é?"
Nos sentamos para tomar o café. É impressionante o quanto se perde quanto se está dormindo. Mas eu não posso dizer isso para ninguém, caso contrário terei que acordar cedo para sempre.
"Bem, acho que agora podemos ir para a escola, não é? Acho que a gente finalmente vai chegar antes dos garotos"
"Ah, espera só um pouco... eu deixei meu material no quarto!"
"Nada é perfeito..."
"Já vou lá buscar..."
"Ela pega."
Minha mãe apontou para Priscila. Nem precisava, afinal quem mais ela chama de "ela" assim?
"Deixa, eu...."
"Eu vou pegar. Onde está?"
"Em... em cima da mesa..."
"Mãe!"
"O que foi?"
"Essa Ariana... como sempre, boazinha até com quem não precisa..."
Tudo bem, tudo bem... Já teve coisa pior.... Mas não deixa de ser desagradável.
"Aqui."
"Obrigada!"
Então, saímos de casa, em direção à escola. E o sono ainda me perseguia...
Vingança...
Há 13 anos