"Nós precisamos conversar"
Foi dessa forma amigável que Alan veio falar comigo depois da aula. Ele e o "prisioneiro" dele estavam me olhando de uma forma estranha. Eu sabia sobre o que ele queria falar. Eu sabia que ele também tinha notado. E ele era a última pessoa do mundo com quem eu queria discutir esse assunto."Eu não tenho nada para falar com você!""Ah, você tem sim!""Não se mete nisso!!"Eu simplesmente odeio quando ele se intromete na conversa. E ele parece saber disso, já que insiste em sempre fazê-lo.
"Gritar não vai adiantar nada, Rani. Você sabe o que está acontecendo com a sua amiga, e você sabe o que pode acontecer se a situação continuar assim. E você também sabe que não pode resolver isso sozinha. E você sabe que....""Cala a boca!!! Não vai acontecer nada! Eu não vou deixar acontecer nada de ruim com a Ariana!"
Quem ele pensa que é? Um tipo de super-herói, que se ele se meter nisso, vai ficar tudo bem?
"Encare os fatos. A prisioneira dela sumiu. E, pelo que eu conheço a Ariana, ela não deve ter ideia do que isso pode significar. Se continuar assim, ela pode acabar...."
"Eu sei disso!!!!! Não sei porque todo mundo insiste em ficar falando disso!"
Ninguém precisa me lembrar da gravidade disso. Eu não preciso ser lembrada, pois eu vi o que pode acontecer.
"Rani, você conhece bem essa situação. Mesmo que seja apenas um alarme falso, a gente tem que falar com ela. Ela precisa saber o risco que está correndo!"
"Não! Eu não vou deixar você dizer uma palavra sobre isso para ela!"
"Por que isso? Você prefere deixar que ela se machuque... ou pior do que isso,...."
"Não! Você acha que eu não sei o quanto você estava esperando por isso? Por uma oportunidade de falar mal dos meus pais outra vez?"
"Não tem nada a ver com isso. Eu também não quero que aconteça algo assim de novo..."
Agora ele me irritou. Ele sabe que isso é algo que ainda me machuca, mesmo que já tenha passado muito tempo. E ele nunca demonstrou ter se sentido mal pelo que aconteceu. Mesmo que ele também tenha sido responsável pelo "acidente" em que os meus pais morreram. Sim, ele também foi responsável pelo que aconteceu, mesmo que indiretamente. E agora ele quer me fazer acreditar que está com medo de que algo parecido aconteça de novo?"Para com isso!! Para de tentar fazer chantagem emocional, e para de tentar me fazer parecer uma irreponsável! Eu já disse que eu sei o que está acontecendo, e eu já disse que eu não vou deixar nada de errado acontecer com a Ariana. Eu não preciso da sua ajuda, eu não preciso das suas dicas e eu não preciso de você! Por que você simplesmente não some da minha frente? Aliás, por que é que você não some da minha vida?""Está bem, Rani. Eu não vou fazer nada, mas é só por enquanto. Se eu notar que as coisas estão ficando piores, eu vou contar tudo para ela. E não importa se você vai me odiar pelo resto da vida."
"Eu já te odeio"
"Eu só gostaria que você pensasse um pouco no que você disse. Não se esqueça, eu sou o único aqui que realmente sabe como isso é. Você pode ter visto de perto, mas eu sou o único que sentiu como é."Depois disso, os dois saíram. "Eu não vou esquecer."Olhei para o lado. Minha prisioneira estava lá. Há quanto tempo ela estava ouvindo a conversa?'Me desculpe. Eu estava aqui o tempo todo, mas não foi nenhuma novidade''Como é?''É o que sempre acontece quando vocês dois conversam. Vocês sempre brigam, e sempre acabam abrindo feridas do passado.'Olhei fixamente para ela. Isso é, do lado de fora.Eu tinha consciência de estar de pé do lado de fora da escola. Sabia que não havia quase ninguém além de nós duas. Ariana se sentiu mal e voltou para casa mais cedo hoje. André já tinha ido para casa, também. Um cachorro estava andando perto da esquina. Muitos carros passavam. Estava calor, quase sem vento.Mas, ao mesmo tempo, eu também estava em outro lugar. Lá, apenas eu e a prisioneira. Uma corrente de metal saía de dentro do meu pulso direito, e se estendia até a pulseira de metal no braço direito da prisioneira. Estava nevando, mas eu não sentia frio. Estava de noite, e não havia nenhuma estrela no céu. É o mundo interior."Tome cuidado com o que fala"Eu não preciso me preocupar com o que falo aqui dentro. Porque eu não estou falando isso lá fora. E também não preciso me preocupar em andar para a direção em que, lá fora, fica a rua. Porque aqui a única coisa que tem nessa direção é uma prisioneira com medo."Me desculpe. Eu apenas..."Outro olhar congelante na direção dela. Ela se abaixou. Agora a dor estava piorando.Ela é minha prisioneira, o que significa que eu posso fazer qualquer coisa com ela. Ela tem que me obedecer. Se não o fizer por bem, eu posso usar outros meios, como esse. Sim, eu posso fazer ela sentir dor apenas olhando para ela.Puxei a corrente que nos une para que ela chegasse mais perto. "Você sabe o que está acontecendo com a Ariana, não sabe?"
"Eu...""Responda""Sim, eu ach..."
"Eu vou te perguntar só uma vez: você tem alguma coisa a ver com isso?""Eu.... me des... culpe"Voltei ao "mundo real". Qualquer um que estivesse nos observando não iria notar nenhuma diferença. Apenas veria nós duas nos olhando, e só escutaria o que ela disse. Comecei a tomar o caminho para casa. Quando vi, já estava correndo. Eu precisava ver meu avó logo. Nem olhei para trás para ver se ela estava me seguindo. Ela teria que vir comigo, querendo ou não. Mas isso já não tinha nenhuma importância.