quarta-feira, 20 de abril de 2011

Minha melhor amiga- Complicação- parte 6

"E aí, o que ela queria?"
"Nada em especial"

Eu fiquei esperando por meia hora os dois terminarem de conversar, e é só isso o que ele tem a dizer?

"Com a situação do jeito que está, você quer mesmo que eu acredite que não era nada em especial?"
"Desculpe. É que fica meio difícil para ela falar comigo lá na escola"
"Ela não bloqueia a Rani?"
"Não é por causa da Rani... é por causa ds outros"
"Outros?"
"Os outros prisioneiros... eles não... vão muito com a minha cara"

Não me dei ao trabalho de perguntar o motivo. Eu sei muito bem o motivo.

"Ah.... eu sinto muito por isso"
"Então é nisso que você estava pensando todo preocupado o dia todo? Não liga para isso, não. Você não teve culpa"
Eu sabia que ele ia dizer isso. Ele sempre diz isso.

"Então quem é que teve?"
"Ninguém. Mas isso é passado. O que importa é o presente, e nós estamos com um belo problema"
"Bem, a gente não tem nem certeza se é mesmo um problema"

Pode parecer estranha toda essa nossa preocupação só porque a Ariana não sabe onde está a Priscila, principalmente se você não entende muito bem como o "sistema" funciona. Então, deixa eu explicar melhor como ele é:


Antes de tudo, toda pessoa é acompanhada por um prisioneiro. Toda. Isso é o normal, o natural, é o jeito que as coisas são, você querendo ou não. As pessoas que se dizem "normais" podem fazer o que quiserem com seus prisioneiros, podem pedir a eles qualquer coisa, podem colocá-los para fazer coisas que são preguiçosos demais para fazer. Isso também é normal, etc, etc, você querendo ou não.
Então, você tem seu(a) prisioneiro(a) e ele tem que te obedecer. Para isso, existe o Mundo Interior, a dimensão paralela da mente do seu prisioneiro(a). Existem várias teorias sobre como isso funciona, e eu posso garantir que a maior parte está completamente errada. Mas o jeito que funciona não importa, o que importa é que funciona.
O mundo tem sido assim há muito tempo. Existem registros de mais de 5 mil anos atrás que já falam sobre isso. Então, o mundo já era assim quando nascemos, nós ouvimos as mesmas coisas de nossos pais e professores na escola, aparece na TV e em livros. A maioria esmagadora da população não acha estranho, não se pergunta o porquê. Mas, de tempos em tempo aparece alguém que resolve tentar descobrir a verdade sobre isso. Eu tive o (des)prazer de conhecer duas pessoas assim. Os pais da Rani. Bem, os dois estavam tão focados em perseguir a verdade que acabaram encontrando. Mais do que isso: a verdade encontrou eles, e.... bem, digamos que as vidas deles foram encurtadas por causa disso.
Qual é a verdade? Bem, eu posso dizer que é algo bem diferente do que todos acreditam. Eu ainda não conheço exatamente toda ela, mas uma boa parte. Mas eu também tive que enfrentar as consequências por isso.

Bem, lembra-se do que eu disse, sobre toda pessoa ser acompanhada por um prisioneiro? Bem, essa é a regra. Mas todos sabemos que toda regra tem sua exceção. Durante sua pesquisa, os "doutores pais da Rani" descobriram que existe um jeito de separar uma pessoa e seu prisioneiro. Separar mesmo, para sempre. Isso porque os dois são ligados por uma corrente que só pode ser vista no Mundo Interior. Se essa corrente for rompida, a pessoa "normal" se torna uma exceção ambulante. E seu prisioneiro se torna.... bem, outra pessoa "normal"/ exceção ambulante. O problema é que o rompimento dessa corrente é um processo complicado, que pode causar até a morte da pessoa. Esse "método" não é muito conhecido entre as pessoas normais, mas a maioria dos prisioneiros sabe que é possível, apesar de não saber como fazer. E eles não tem muitos motivos para usá-lo.

Minha preocupação (e a de todo mundo) é que Priscila esteja tentando fazer isso. Não sei como ela descobriria a "técnica" sozinha, mas ela convive com pelo menos duas pessoas que a conhecem. Se ela tentasse isso, não tem como saber quais seriam as consequências.
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"O que você estava fazendo?"
"Explicando o que está acontecendo para os leitores"
"Mas você não disse o mais importante"
"Isso eles vão ter que descobrir sozinhos se quiserem saber antes de eu contar para a minha amiguinha!"